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O Cruzeiro e o Futebol Feminino: Um Passo em Risco?
Por Redação Raposa Azul em 04/10/2024 18:25
A Ascensão do Cruzeiro no Futebol Feminino
O Cruzeiro, sob a gestão de Ronaldo Fenômeno, deu um passo significativo na transformação do seu futebol feminino. Desde 2022, o clube implementou mudanças estruturais e de processos, criando um ambiente profissional e focado no desenvolvimento da modalidade. Os resultados foram expressivos, com o time chegando à final da Supercopa feminina em 2023 e às quartas de final do Campeonato Brasileiro em 2024. A equipe se tornou uma força a ser reconhecida no cenário nacional, capaz de competir com os principais times do país. Mas uma mudança de rumo e declarações questionáveis colocam em risco esse projeto promissor.
A mudança começou em 2022, com uma ruptura com os métodos tradicionais de administração. A estrutura do futebol feminino precisava ser modernizada e adaptada às necessidades da modalidade. Ronaldo investiu na construção de um vestiário exclusivo para as atletas, salas de reunião e uma organização eficiente da rotina, com horários definidos para refeitório, uso dos campos de treino, tudo isso ainda na Toca 1, o centro de treinamento do clube.
Em 2023, o acesso das atletas à Toca 2, o centro de treinamento do time masculino, foi ampliado para exames específicos e o uso de um campo sintético moderno. A equipe feminina passou a ter acesso a recursos e infraestrutura de ponta, mas algumas operações como academia, refeitório e fisioterapia ainda eram realizadas na Toca 1.
Um Projeto Estratégico em Risco
Em 2024, a integração do futebol feminino à Toca 2 se intensificou, com as atletas treinando no melhor campo do centro de treinamento, em horários distintos do time masculino. Essa união, sempre defendida como essencial para o desenvolvimento da modalidade, permitiu que o feminino compartilhasse o núcleo de saúde, performance e metodologia do time principal, consolidando o projeto de integração total à Toca 2.
O sucesso do futebol feminino do Cruzeiro é fruto de um planejamento estratégico de longo prazo, com investimentos em diversas áreas. O clube contratou uma nutricionista exclusiva, garantindo refeições completas e personalizadas para as atletas, além da entrega de marmitas com cardápios específicos. Essa atenção aos detalhes, típica de um clube que busca excelência, demonstrava o compromisso com o desenvolvimento das atletas.
A comissão técnica também foi reforçada. De 2019 a 2021, a equipe feminina contava com treinador, auxiliar, preparador de goleiras, médico, fisioterapeuta, roupeiro e preparador físico. A partir de 2022, com a chegada de Ronaldo e da diretora Kin Saito, o departamento feminino passou a ter dois analistas de desempenho, fisiologista, psicóloga, supervisora, auxiliar de campo, fotógrafo, assessora de imprensa própria, além dos profissionais já existentes.
Investimentos e Resultados Concretos
O investimento em tecnologia também foi crucial. Cada atleta recebeu o Hudl, um aplicativo de análise técnica individual, e GPS de última geração, proporcionando dados precisos para o desempenho e a recuperação das jogadoras. A comissão técnica, liderada pelo treinador Jonas Urias, um profissional renomado que chegou ao Cruzeiro após sua passagem pela seleção brasileira feminina sub-20, contava com ferramentas e recursos de ponta para o desenvolvimento do time.
O marketing também passou por uma reformulação, com o futebol feminino sendo integrado às estratégias de comunicação e marketing do clube. O lançamento de camisas e produtos exclusivos para a modalidade, além da conquista de três patrocinadores, demonstram o investimento em marketing e a crescente visibilidade do futebol feminino do Cruzeiro .
Em 2024, as receitas do futebol feminino aumentaram significativamente, com o recebimento de cotas da CBF, a venda de ingressos e a reformulação dos contratos das atletas, com a inclusão de CLT e direitos de imagem. O clube deixou para trás o modelo de ingresso gratuito, reconhecendo o valor do público e a importância da receita gerada pelos jogos.
Uma Decisão Questionável
O sucesso do futebol feminino do Cruzeiro não é fruto do acaso, mas de um planejamento estratégico, com investimentos em infraestrutura, tecnologia, profissionais e marketing. O clube, sob a gestão de Ronaldo, tinha um plano definido até 2030, com o objetivo de se tornar uma potência no futebol feminino. O Corinthians, hoje um dos principais times do país, passou por um processo semelhante, investindo em estrutura e planejamento para alcançar o sucesso atual.
>> "Diretor do Cruzeiro afirma que era Ronaldo estava dando "passo maior que a perna" com time feminino" <<
A declaração do diretor do Cruzeiro , Alexandre Mattos, de que o projeto de Ronaldo era "um passo maior que a perna", demonstra uma falta de compreensão da realidade do futebol feminino e do potencial de retorno financeiro que a modalidade oferece. Interromper um projeto estratégico de sucesso, com base em uma visão equivocada e sem levar em conta os investimentos realizados e os resultados obtidos, é um erro grave. Boicotar um produto que já está dando certo, com potencial de crescimento e rentabilidade, é incompreensível.
O Futuro do Futebol Feminino do Cruzeiro
O modelo de sofrimento para o futebol feminino, com a falta de investimento e a visão de que a modalidade é apenas um custo, não se sustenta. O Brasil, com duas das maiores vendas da história do futebol feminino nos últimos meses, tem um potencial enorme para o desenvolvimento da modalidade. A Copa do Mundo de 2027 no país é uma oportunidade única para os clubes se posicionarem como protagonistas.
>> "O futebol feminino voltou à vala comum de times, como o Atlético-MG, que acabou rebaixado" <<
A declaração do dono do Cruzeiro , Pedro Lourenço, sobre o time feminino ter "voltado à vala comum" é um reflexo da falta de investimento e da visão equivocada sobre o potencial da modalidade. Essa mentalidade retrógrada, que prioriza o lucro imediato em detrimento do desenvolvimento e do investimento em projetos de longo prazo, impede o crescimento do futebol feminino e coloca em risco o futuro da modalidade.
Os clubes que insistirem em tratar o futebol feminino como um custo e não como um investimento estratégico, com potencial de retorno financeiro, acabarão perdendo a oportunidade de se integrar a uma tendência global que está em ascensão. Os principais clubes do mundo já perceberam o valor do futebol feminino e estão investindo em suas equipes, reconhecendo o potencial da modalidade e a necessidade de se adaptar às novas demandas do mercado.
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